Já faz um bom tempo que não escrevo nada e sempre coloco a culpa na falta de tempo, mas a verdade é que muita das vezes eu fico sem inspiração e não me orgulho em declarar que fico mais inspirada em dias ruins em que tudo que eu posso me apoiar são lembranças e lágrimas que escorrem do meu rosto sem que ao menos eu possa impedir.
São dias bem ruins então eu resolvi pelo menos uma vez tentar dizer o quanto estou machucada. Sabe a pior parte? Grande porcentagem da dor que tô sentindo hoje eu mesma causei. Atos que cometi há bons meses atrás uma hora ou outra bateriam na minha porta e sem pedir licença fariam da minha vida um caos.
Eu não tive uma infância, emocionalmente dizendo, boa. Eu nem sabia quem era meu pai até completar treze anos, na verdade eu sempre achei que meu pai fosse uma pessoa, mas depois descobri que era de fato outra, e isso não é metaforicamente dizendo e mal falava com minha mãe até completar dez, datas comemorativas como dia dos pais e das mães na escola eram como facas no meu coração e eu não tinha nem seis anos quando começou a doer. Dois anos antes disso, por volta dos meus quatro anos fui passar férias no RJ com minha mãe e ela fez o favor de me perder na praia da Barra, lotada. Por sorte ou obra de Deus me acharam já sendo retirada da praia no colo de um casal de gringos que sabe se lá pra onde me levariam. O cara que eu mais amei na vida morreu na minha frente também aos meus seis anos, e mesmo com a pouca idade fui em quem liguei pra emergência e chorei olhando o caixão da pessoa que, provavelmente, mais me amou também.
Hoje eu agradeço muito por ter sido criada por minha vó que sem encostar um dedo em mim me deu uma educação primordial. Passei uma parte da minha infância brincando com meninos ou sozinha no meu quarto imaginando alguém ali comigo. O engraçado é que nas minhas brincadeiras eu era advogada ou professora, e hoje eu sou formada no magistério e sou apaixonada por uma advogada.
Por mais que minha avó sempre tenha me amado como sua 11ª filha, ela nunca foi de demonstrar, aliás, de onde eu vim, pelo menos na minha família, demonstrar afeto é algo muito raro. E não é algo que eu possa ter aprendido na infância. Então sempre quis resolver minhas coisas sozinha, tudo que eu queria fazer eu ia lá e fazia e pronto. Com isso eu aprendi a me preocupar mais com coisas que eu queira realizar do que com o que os outros estão fazendo com suas respectivas vidas. Por eu ter esse jeito bruto de ser, que faço o que quero fazer, as pessoas acham que por dentro é oco, mas não é, talvez eu sinta tanto a que não consigo nem dizer, já ouvi algumas vezes que tenho um coração do tamanho do mundo que parece que nem sou daqui. Boa parte da minha adolescência foi ouvindo frases como: "Eu não acredito em você. Não dá pra confiar." E tudo isso só porque eu tenho meu jeito calado e peculiar de ser. Se for pra falar tudo que já passei, eu poderia virar uma assassina em série e pôr toda a culpa no que vivi no passado. Mas eu, depois de ouvir vários "nãos" por aí, resolvi que só ia atrás dos "sins" que me interessavam, e então quis ser um alguém tão bondoso e carinhoso que depositei isso em alguns relacionamentos que tive.
"Carrego a glória e a dor de ser do meu jeito", poderia citar vários trechos de músicas do Filipe Ret que se encaixam na minha nada mole vida. Mas porque eu tô dizendo isso tudo sem nenhum nexo? Digamos que hoje eu esteja pagando o preço por ser brincalhona com a vida, e quando ela veio me cobrar os juros foram altos demais. Eu não só acabei temporariamente com a minha vida, mas também com a vida da pessoa que eu mais amo nessa vida além da minha vó, e a única que consegue tirar de mim qualquer demonstração de carinho ou afeto que eu nem sabia que podia ter um dia. Ela me ensinou a amar e me deixava bem toda vez que dizia que me amava também. E eu acabei ferrando com tudo. Não errei antes, mas quando errei, errei por muito. E eu gostaria de ter como me desculpar e me redimir, mas não acho jeito pra isso. Eu só não queria acabar tudo com a única pessoa que eu confio pra contar as coisas que sinto diariamente e a única que eu sei que se preocupa mesmo com a resposta da pergunta "Ta tudo bem?". Eu não sou boa em lidar com perdas e eu não queria ter que lidar com mais uma. Parece que as pessoas que eu mais amo ficam melhores longe de mim, e eu nem sei porque eu afasto ao invés de manter por perto. Por medo de perder eu acabei errando, na verdade tudo que eu queria era um recomeço, mas a vida mostra que de vez em quando temos que ter um sacolejo senão dormimos no ponto. Eu não sou uma pessoa ruim, nem o tipo de pessoa em quem não se possa confiar, eu pisei na bola e sei que pisei bem feio, mas eu não sou assim sempre, na verdade nunca tinha sido assim antes e eu não consigo me olhar no espelho porque lembro que machuquei alguém que eu sempre quis cuidar. Vai ver eu não sou boa em lidar com isso de amar e ficar com alguém, vai ver esse é meu espírito "assassino em série", só queria explicar que apesar do meu enorme erro, eu continuo aqui mesmo sabendo que terei que pôr na lista do: "Eu não acredito em você", só pelo fato de não saber e não querer ir embora, porque quando tô com ela parece que tô finalmente em casa e eu não errei de propósito, não seria capaz disso nunca na vida, eu só não tenho o hábito de me abrir sempre e eu sei que tô mais pra lá do que pra cá na lista dela de romances, mas eu fico por perto porque sei que longe dela eu perco meu rumo. E eu não me importo de me humilhar dizendo que sem ela eu não sei viver direito e que tudo parece preto e branco, porque mesmo sendo clichê, é a verdade.
Enfim, lidei a vida toda com pessoas errando e uma hora eu sabia que seria minha vez, eu só não sabia que as consequências seriam do tamanho que estão sendo, mas eu as aceito porque diferente das pessoas que cresci assistindo errar, eu ainda sou aquela criança que sonhava em ser advogada pra fazer justiça. E como todo mundo merece um perdão, eu queria pedir pra ela o meu, e dizer que a Sanny por quem ela se apaixonou um dia, continua aqui mais perdida do que nunca porque não sabe por onde começar a conquistá-la de novo e ter um pouco que seja da sua confiança novamente.